terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vendo o tempo passar...

Um segundo! Um piso faltando na calçada. Um conhecido que passa e eu olho para cumprimentar( e ele nem me viu, estava indo e não vindo)
E a sandalia plataforma, verdadeira armadilha para pés desavisados, virou!
Não faltei a festa que estava programada para a noite nem as atividades dos 12 dias seguintes, embora pulando num pé só.
Entre doloridas compressas de gelo, que diminuiram o inchaço mas não resolveram a dor.
Claro, o pé estava quebrado em dois pequenos fragmentos, que um raio x revelou.
E não teve protesto que resolvesse: gesso até 17 de Novembro!
Ainda faltam 16 dias e algumas horas, verdadeira tortura para uma pessoa agitada como eu que não consegue ficar parada por mais do que alguns minutos.
Agora aprendi a andar de muletas, pilotar a cadeira de rodas.
De bom, os livros lidos na varanda, seguidos de uma sonequinha.
Bom também observar os pássaros que se servem sem cerimonias na pitangueira e no comedouro onde não falta farelo e quirera.
E pintar um novo naif, esparramada no sofá , vendo sessão da tarde.
E meditar na maravilha que é viver.
Quando tirar o gesso, terei tantas coisas para por em dia que vou ter que me virar em "quatro".
Mas confesso que vou sentir saudades de ver como muda a tonalidade das folhas,que transparentes se revelam ao sol.
De sentir o vento que invade a varanda e parece deixar mais leve a alma.
De sonhar de olhos fechados com o jardim que vai florir...

Em minha exposição Manhãs de Primavera", terminei uma poesia dizendo:

"Porque a terra não é assim tão florida?

-Porque os homens se esqueceram de lançar as sementes!"

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Novo dia que começa.

Faz um mes que meus dias começam diferentes. Acordo com uma serenata de passarinhos e raios de sol que invadem meu quarto, nem uso mais um despertador.
Levanto curiosa: quantas garças estarão hoje no lago que avisto pela janela de minha cozinha?
Outro dia estavam num grupo de dez. Patos carolina, que antes so via no zoologico, quero-quero, aves que não conheço por nome...
Aqui parece a boca do vento, em geral ele sopra forte, balançando a mangueira que ja esta carregada de frutos.
Sonhava um dia acordar assim...
Acordei... Hoje vejo que vale a pena sonhar acordada, e que perseguir sonhos podem te levar ate la.
Basta acreditar.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Onde o vento me levar...

Este texto fez parte da exposição "Onde o vento me levar..."

Naif: arte ingênua. Pode-se dizer que o naif brota do inconsciente , sabedoria e sonho se irmanam em obras singelas. Marcadas por imagens do cotidiano, em geral conta histórias por meio da pureza das cores, traços e formas, com uma técnica aparentemente estilizada e rudimentar.
Arte naif não se estuda; se sente.

Não sou uma artista primitiva, mas me apaixonei pelo naif. O que mais me encanta é ser ele puramente emocional. Por meio dele se abole o tempo e reencontramos paraisos perdidos . O naif imortaliza o instante, nos remete à um mundo de alegria e êxtase , como se estivéssemos vendo o mundo pela primeira vez.
"Flutuando em meio ao silêncio da manhã , descobri horizontes longinquos, caminhos singelos, aguas claras refletindo um céu azul encantado, cenas da vida se perdendo na imensidão da paisagem.
A beleza de nossa terra é presente, palpável, mas só os olhos dos ingênuos conseguem vê-los assim.
Isso é o " meu" naif.
Saudade do que foi, alegria de viver o presente em mil cores, expectativa de ver cumprir-se meus mais nobres sonhos.
Meu mundo perfeito!
Um sonho sem fim."


Isto é naif: despojar-se do secularismo, desligar os infinitos botões da tecnologia, arrancar a máscara do materialismo, atrasar os ponteiros do relógio que escraviza e caminhar descalço sentindo na pele o calor do sol...

Sentir o sopro suave da brisa despenteando os cabelos e sussurrando segredos...
É fechar os olhos e perder-se nos labirintos de uma saudade que não cessa nunca...
É aconchego de braços de mãe, mão firme de pai que carrega nos ombros, afago de avó nos cabelos enquanto apura no fogão de lenha o arroz doce e o curau.

É avô que vira criança inventando travessuras...
Olhos curiosos que brilham ao ouvir o contar de lendas, fábulas, histórias cheias de mistérios nos castelos e ruinas da imaginação.
Acordes de um violão apaixonado em serenata, a simplicidade da conversa sem pressa em volta de uma fogueira...
... o riso das crianças perseguindo pirilampos sob a lua que banha de prata o campo que adormece...

...primos, vizinhos, amigos de escola e inimigos de "mal a morte"...
Bambolê, pula corda, bolinha de gude; pipas que bailam no céu azul desenhando malabarismos por entre nuvens de algodão doce.
É comer fruta colhida no pé, chupar cana à sombra das laranjeiras.
Árvores carregadas de botões explodindo em cores, a semente brotando da terra e desenhando colchas de retalhos.

É rever a casa que nasci.
Os morros verdejantes de Pilar do Sul, a casa branca na beira do riacho de aguas íimpidas...
No ar, o aroma das delicias do fogão de lenha de Dona Maria, mãe prestimosa, cheia de virtudes; os olhos verdes de Seu Joel, que assobiava lindas melodias enquanto trabalhava...
Pitanga, jabuticaba, gabiroba, amora...as brincadeiras na gruta que parecia tão grande e cheia de mistérios.
as irmãs, as amigas, os primos e vizinhos, as travessuras de meu irmão Zézinho que sempre levava muitas palmadas...
Os invernos longos e gelados que pareciam não terminar nunca e, de repente, a primavera explodindo em cores.

Isto é naif: explosão de sentimentos, uma saudade infinita do que foi...
... sonho de voltar às raízes, ser novamente simples...
... saborear a vidas aos pouquinhos vendo borboletas saindo preguiçosas dos casulos e ganhando o céu...
Cada dia tecer uma história entre um nascer e um por do sol!
Bernadeth Rocha

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Me vejo na Toscana...



Não sei porque, mas desde há muitos anos, parece vir de minha adolescência, tenho uma paixão pela Toscana. Ou pela Itália , sei lá. Acho que nem descendência tenho, mas para mim se tornou um sonho a ser realizado. Às vezes fecho os olhos, e parece que estou sentindo a brisa que varre os morros verdejantes, balança as kaizucas, e canta nas janelas dos velhos casarões de pedra. Quando assisti( e já revi várias vezes) Sob o sol da Toscana, tive uma confirmação: essa é a viagem de meus sonhos. Embalado nesse sentimento, resolvi pintar uma paisagem com um campo de papoulas , como o que aparece na abertura do filme, foi muito bom, parecia que pintava lembranças que ainda vou ter...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Maior que o infinito...



Auto-Retrato Falado

Manoel de Barros


Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço

coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.


"Maior que o infinito é o incolor./ Eu sou meu estandarte pessoal./ Preciso do desperdício das palavras para conter-me./ O meu vazio é cheio de inerências./ Sou muito comum com pedras."...

Haverá, pois, algum sentido prático em tentar defini-lo? Será bem melhor que nos deixemos envolver pela sua poesia, que nos encantemos pela sua constante redescoberta das palavras."

Quadro: Saudades da infância - óleo sobre tela de Bernadeth Rocha


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Manoel de Barros




Estou apaixonada por Manoel de Barros. Talvez porque a leitura leve, mas cheia de reflexão nas coisas simples da vida , me dão a oportunidade de , por alguns momentos (seus textos são curtos) mergulhar num mundo surreal e muitas vezes ansiados por meu íntimo irriquieto. Talvez por ele ter a ousadia de brincar com as palavras, sem medo da "ignorãça" Diz que aprendeu as palavras com os pássaros, com os sapos... Vi no seu livro Memórias inventadas um retorno aos dias curiosos de minha meninice em Pilar do Sul, as tardes sem fim nos morros verdejantes de minha cidade... a criatividade ultrapassando a simplicidade imposta pela pobreza.
Encontrei em suas palavras a tinta de meus pincéis, os pontinhos delicados se unindo para formar frases abstratas.
Encontrei em sua biografia , Releituras-resumo biográfico e bibliográfico, um resumo do que é Manoel de Barros:

"Numa entrevista concedida a José Castello, do jornal "O Estado de São Paulo", em agosto de 1996, ao ser perguntado sobre qual sua rotina de poeta, respondeu:

"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento."
...
...Não perdeu o orgulho, mas a timidez parece cada vez mais diluída. Ri de si mesmo e das glórias que não teve. "Aliás, não tenho mais nada, dei tudo para os filhos. Não sei guiar carro, vivo de mesada, sou um dependente", fala. Os rios começam a dormir pela orla, vaga-lumes driblam a treva. Meu olho ganhou dejetos, vou nascendo do meu vazio, só narro meus nascimentos."
...
"Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira"."

Como não se apaixonar por uma pessoa tão singela, num mundo abarrotado de narizes empinados e egos inflados?

( Agora entendi: a toca onde por vezes me escondo é o "lugar de ser inútil", de onde desenterro meus fósseis, rebuscando memórias que eu pinto.As vezes acho que passo mais tempo no passado do que no presente, remexendo baús de lembranças desbotadas e até mesmo duvidosas.
Será que estou ficando saudosista demais?)

Quadro: "Meu Mundo Perfeito- a casa em que nasci" - óleo sobre tela de Bernadeth Rocha

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O menino que ganhou um rio


Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia
o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam
naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse minha mãe compraria
rapadura
ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me
deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma
rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava
do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário de meu
irmão
ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera
ao meu irmão
e achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens
do meu rio
e de noite eles iriam dormir na árvore do
meu irmão.
Meu irmão me provocava assim:
a minha árvore deu lindas flores em Setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava
piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram
os banhos nus no rio entre os pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!

Texto extraido do livro Memórias inventadas de Manoel de Barros.

Fiquei impressionada com a singela idéia criada pelo autor que inventou memórias de uma infância que não viveu. São pequenos textos que falam de sua infância, juventude e velhice, mas que ele preferiu retratar como suas três infâncias .
Fiquei encantada também com a idéia de uma mulher simples e sábia que para amenizar a pobreza de suas vidas , dá ao filho de presente o rio que passava detrás da casa.
E ele fica mais feliz do que se fossem as rapaduras do mascate.
E ao irmão promete uma árvore cheia de pássaros !
Dá pra imaginar que infância rica e inesquecível essa mulher deu aos filhos , infância que hoje muitos pais negam aos seus filhos os abarrotando de idas aos shoppings, e presentes eletrônicos que em meses se tornam ultrapassados!

Quadro: "O menino e o rio" - óleo sobre tela de Bernadeth Rocha

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010




Quem vive às voltas com pincéis e telas, nem sempre pára a correria para observar a arte. Infelizmente, acontece muito nas exposições que faço , pessoas que por estarem fazendo cursos de pintura, sentem seu ego inflado, e então começam a discursar sobre os quadros que já pintaram, e as vendas que já concluíram,e na maioria dos casos, o comentário que mais ouço é:
-'...mas ninguém dá valor prá arte, né? "
Quando são colegas de profissão, artistas plásticos, ou desenhistas, infelizmente a regra parece ser não enxergar o sua arte, ali a exposição é sua, e, lá vêm eles falar das exposições que já fizeram e suas consecuções. E você, que está ali ansiosa para mostrar o fruto do seu trabalho, ou atender possíveis compradores, fica ali, ouvindo, ouvindo...
Ainda bem que existem as exceções ,pessoas que além de ser excelentes artistas , são maravilhosos e humildes , com quem é um grande prazer conversar, trocar idéias, pessoas que nos enriquecem com seu conhecimento e simpatia. Sempre me lembrarei com carinho artistas como Molina , que pinta quadros impressionistas deslumbrantes retratando em especial Paris antiga. Sua presença em minha última exposição foi uma grande honra, e mais uma vez , ele me deu dicas muito úteis para meu trabalho. Tem artistas que nem pagando querem transmitir o que sabem. Também , registro aqui a minha admiração pelo trabalho de Liliane Alves, com seus quadros em acrílico aquarelado em suas sobreposições de transparências, trabalho meticuloso e rico em detalhes. Ela, a simpatia em pessoa. Outra artista por quem tenho um carinho especial, é a Mitiko, que tem trabalhos abstratos lindos e , que tem batalhado pela classe artística em Sorocaba, lutadora incansável, procurando sempre divulgar a arte e montar exposições com grande alegria e disposição.
Esses e outros amigos, são verdadeiros artistas, no diante uma tela em branco e na vida, pincelando histórias de sucesso.
Por esses sim, vale a pena parar e tirar o chapéu.


Aprecie a maravilhosa arte impressionista do artista Molina de Sorocaba.
Para ver mais: http://nelsonmolinaart.blogspot.com

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fragmentos


Na parede em frente de meu computador, tenho um painel com fotos, daqueles com imãs que qualquer rajada de vento mais forte manda tudo ao chão.
São momentos, fragmentos de dias já vividos. Minha familia sempre foi fanática por fotografia. Na época dos filmes sempre ficava a angústia de esperar a revelação para ver o resultado, se seriam boas ou ruins. Mas pelo menos a gente revelava e assim as fotos iam se acumulando. Um dia minha filha resolveu organizá-las por datas, colando as fotos em sulfites e colocando naquelas pastas plásticas. Formou 6 grandes álbuns, na lombada marcou os anos que ali ficaram registrados. Começa com minha única foto de bebê tirado pelo único fotógrafo da cidade, o 'Seu Mingote'.
É uma pequena foto em preto e branco de 1960 em que estou sentada , bem carequinha, numa cadeirinha de balanço, de vime, e meu irmão Zézinho, todo tímido, cabeça baixa, calças curtas e suspensórios.em pé com a mão na costa da cadeira. Depois vem uma de meu marido, uma graça, também p & b , com um macacão curto, todo arrumadinho. Deve ser de 1958. Nossas lembranças, juntos, encheram só uma sulfite e meia, na verdade só temos 13 fotos para recordar infância e adolescência. Mas são tão valiosas.Que delicia ver aquele meu rostinho redondo com 11 anos na formatura do "Grupo Escolar Padre Anchieta" , com o Nézinho, que foi meu padrinho. Coitado, apesar de ser um dos bem-nascidos da cidade( era filho dos donos da padaria em que minha irmã trabalhava) morreu de overdose, o preço do álcool e da droga.
Tem uma outra que vale a pena ver. Meu marido naquela clássica foto na mesa da diretora da escola em frente a bandeira nacional. Ele disse que não conseguia parar de rir,tiraram assim mesmo. Ficou muito engraçada.
A foto revela o pestinha que ele era, um típico Zezé da Vila Assis onde nasceu. Assim como ele em Meu Pé de Laranja Lima, bastava acontecer algo de ruim , alguém já dizia:
-Só pode ser o filho do Tico!
Como é gostoso quando ele começa a contar alguma das histórias que ele coleciona de sua infância.
Já meu filhos têm muitas fotos. Quantos bons momentos registrados. De vez em quando me perco a recordar tantas viagens , tantas brincadeiras, festinhas. Tinha uma, por ex ,que eles fizeram por anos seguidos. Era a "Festa de Melhor Pai e Melhor Mãe do Mundo" Eles economizavam toda e qualquer moeda que ganhassem por um bom tempo e vendiam seus papéis de carta , bibelôs, figurinhas e outros badulaques que fossem vendáveis. Com o dinheiro já em caixa, bolavam apresentações de dança, peças de teatro e homenagens. Tudo em secreto. Aí, um belo sábado eles davam uma idéia , que eu fosse visitar minha mãe , " ela deve estar com saudades de você" Eu ia fingindo que não tinha percebido nada, assim como eu e marido fingíamos estar surpresos quando chegávamos de volta. A casa estava toda arrumada e decorada, o sofá com uma colcha transformara-se no trono em que o Melhor Pai e a Melhor Mãe do Mundo se sentavam como reis. E vinha as apresentações, todos vestidos em trajes de gala. Depois a festa, o bolo que elas mesmo fizeram, os brigadeiros, as bexigas. Nos divertíamos a valer. Me sinto emocionada só em lembrar quantos momentos felizes eles nos proporcionaram. Essa festa se repetiu por anos, sempre como "festa- surprêsa". Na última já eram adoslencentes, mas continuavam puros em suas emoções e motivações.
E as fotos estão ali, para provar que isso realmente aconteceu. Não foi apenas um sonho ou um anseio. Assim como todos os outros que vejo em meu painel: um dia em Brotas, todos cansados de ir em tantas cachoeiras, nós dois em Campos de Jordão, estava tão frio que não se vê a serra lá embaixo; Cantina da Tia Lina em São Roque, Joanna e Leandro, lindos no dia de seu casamento, Praia de Juquei, Parque do Ibirapuera, onde fomos tantas vezes caminhar apesar de ser tão longe; meus amigos Adriana e Nivaldo numa foto muito engraçada, Mariana e Joanna quando eram pequeninas e fofinhas, Carol em Alambari entre flores amarelas, eu e meus filhos num alegre Congresso de Distrito em Cesário Lange. Enfim, momentos, fragmentos de dias vividos.
Só o hoje nos pertence. O dia de ontem passou como uma bruma que se esvai ao nascer do sol. O dia de amanhã , nem sabemos se existirá . Por isso procuro viver intensamente cada momento, e se dá, registro numa foto, porque elas nos dão uma colcha de retalhos da imensidão que pode ser nossa vida.
Hoje, com as incríveis máquinas digitais até deletamos um pouco das fotos tiradas.

Foto da "Festa de Melhor Pai e Melhor Mãe do Mundo" de 1989.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Casas, casarões e seus quintais


Sempre tive um fascinio por casarões antigos. Talvez por que em minha imaginação fértil de criança, muros altos escondiam quintais cheios de mistérios, onde histórias se desenrolavam cheios de personagens que atiçavam minha curiosidade. Por volta de meus quinze anos, morei num lindo casarão amarelado pelo tempo. Seus cômodos de paredes altas, o longo corredor de assoalho , suas largas janelas onde eu e minhas amigas nos sentávamos para observar o movimento da rua principal de minha cidade, Pilar do Sul. Todas perdidamente apaixonadas, e que nos momentos de desilusão , ouvíamos Elton John , pensando no próximo baile e possívelmente no próximo "príncipe ", por quem certamente voltaríamos perdidamente apaixonadas.
Pudesse teria comprado aquele casarão e o restauraria , para que continuasse ali, imponente na Rua 5 de Novembro, conhecida na época como Rua Direita, para que permanecessem ali guardados os meus sonhos de menina. ( Ele não teve tal sorte, foi derrubado ao chão, e no local foi construido uma loja de moveis, hoje nem imagino o que se encontra ali.) Interessante que muitos dos meus sonhos se passam dentro desse casarão.
No ano 2000 resolvi colocar nas telas essa minha fixação e fiz a esposição " Casa , Casarões e seus Quintais" Passei uns meses visitando casarões da região, fotografando e colhendo histórias.
O resultado foi para mim um prazer, o processo criativo então, sensacional, pois minha imaginação voltou a ter aquele encanto juvenil. Não raro me pegava com olhos marejados , emoção à flor da pele. Alguns meses depois, a exposição se tornou realidade e dela tenho lembranças que jamais sairão de minha memória.
Esta foto é de um casarão em Itu. Pintei lá, ao vivo, experiência nova para mim.
Da próxima vez, contarei como conheci a Fazenda da Serra.

Quadro: Fazenda da Serra. de Bernadeth Rocha

Se quiser conhecer a Fazenda da Serra visite www.fazendadochocolate.com.br


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Onde o vento me levar...

Depois de cinco longos anos, em Agosto de 2009, a Exposição : "Onde o vento me levar..." se tornou realidade.
Minha filha Mariana já duvidava que ela sairia. Um dia me disse que eu tinha boas idéias , mas que elas não saiam do papel. Isso porque já fazia dois anos que eu planejava, não só a exposição, como o vôo de balão em que eu iria fotografar as paisagens a serem pintadas. Não gostei muito na hora em que ouvi, mas valeu o empurrão, pois tornou-se um desafio.
Depois de um longo período de chuvas, como o que agora enfrentamos, um belo domingo, o céu amanheceu descoberto e lá fomos nós.
Era Dezembro de 2007.
A exposição ficou pronta em Agosto de 2009.
Naif é assim; não é pincel e tinta.
É emoção à flor da pele, pontinho por pontinho sendo degustado sem pressa, ao sabor da imaginação.
É lembrança, é ausentar-se da realidade e voar descobrindo horizontes longínquos flutuando numa imensidão azul.
Ontem , minha filha Joanna me deu um belo presente prometido e , eu quero compartilhar com você esta emoção.
Espero que você possa sentir ao menos por um instante , o que foi para mim a realização desse sonho.