Naif: arte ingênua. Pode-se dizer que o naif brota do inconsciente , sabedoria e sonho se irmanam em obras singelas. Marcadas por imagens do cotidiano, em geral conta histórias por meio da pureza das cores, traços e formas, com uma técnica aparentemente estilizada e rudimentar.
Arte naif não se estuda; se sente.
Não sou uma artista primitiva, mas me apaixonei pelo naif. O que mais me encanta é ser ele puramente emocional. Por meio dele se abole o tempo e reencontramos paraisos perdidos . O naif imortaliza o instante, nos remete à um mundo de alegria e êxtase , como se estivéssemos vendo o mundo pela primeira vez.
"Flutuando em meio ao silêncio da manhã , descobri horizontes longinquos, caminhos singelos, aguas claras refletindo um céu azul encantado, cenas da vida se perdendo na imensidão da paisagem.
A beleza de nossa terra é presente, palpável, mas só os olhos dos ingênuos conseguem vê-los assim.
Isso é o " meu" naif.
Saudade do que foi, alegria de viver o presente em mil cores, expectativa de ver cumprir-se meus mais nobres sonhos.
Meu mundo perfeito!
Um sonho sem fim."
Isto é naif: despojar-se do secularismo, desligar os infinitos botões da tecnologia, arrancar a máscara do materialismo, atrasar os ponteiros do relógio que escraviza e caminhar descalço sentindo na pele o calor do sol...
Sentir o sopro suave da brisa despenteando os cabelos e sussurrando segredos...
É fechar os olhos e perder-se nos labirintos de uma saudade que não cessa nunca...
É aconchego de braços de mãe, mão firme de pai que carrega nos ombros, afago de avó nos cabelos enquanto apura no fogão de lenha o arroz doce e o curau.
É avô que vira criança inventando travessuras...
Olhos curiosos que brilham ao ouvir o contar de lendas, fábulas, histórias cheias de mistérios nos castelos e ruinas da imaginação.
Acordes de um violão apaixonado em serenata, a simplicidade da conversa sem pressa em volta de uma fogueira...
... o riso das crianças perseguindo pirilampos sob a lua que banha de prata o campo que adormece...
...primos, vizinhos, amigos de escola e inimigos de "mal a morte"...
Bambolê, pula corda, bolinha de gude; pipas que bailam no céu azul desenhando malabarismos por entre nuvens de algodão doce.
É comer fruta colhida no pé, chupar cana à sombra das laranjeiras.
Árvores carregadas de botões explodindo em cores, a semente brotando da terra e desenhando colchas de retalhos.
É rever a casa que nasci.
Os morros verdejantes de Pilar do Sul, a casa branca na beira do riacho de aguas íimpidas...
No ar, o aroma das delicias do fogão de lenha de Dona Maria, mãe prestimosa, cheia de virtudes; os olhos verdes de Seu Joel, que assobiava lindas melodias enquanto trabalhava...
Pitanga, jabuticaba, gabiroba, amora...as brincadeiras na gruta que parecia tão grande e cheia de mistérios.
as irmãs, as amigas, os primos e vizinhos, as travessuras de meu irmão Zézinho que sempre levava muitas palmadas...
Os invernos longos e gelados que pareciam não terminar nunca e, de repente, a primavera explodindo em cores.
Isto é naif: explosão de sentimentos, uma saudade infinita do que foi...
... sonho de voltar às raízes, ser novamente simples...
... saborear a vidas aos pouquinhos vendo borboletas saindo preguiçosas dos casulos e ganhando o céu...
Cada dia tecer uma história entre um nascer e um por do sol!
Bernadeth Rocha
Um comentário:
Obrigada pela sua visita e pelo lindo comentário. Acabo de ler aqui uma das mais lindas definições sobre arte naif, me emocionei de verdade...
Postar um comentário