quinta-feira, 29 de março de 2012

Palavras que ferem...palavras que curam


Detalhe do quadro Gota da Vida de Bernadeth Rocha- oleo sobre tela

Como são difíceis os seres humanos...
Ou talvez, como são difíceis os relacionamentos entre humanos, seres pensantes que muitas vezes se esquecem de pensar e na ânsia de falar se esquecem que muitas vezes o silêncio é o melhor dizer.
Palavras doces e macias , até as mais sérias, são afago pra alma cansada.
Palavras que cantam, mesmo as mais duras, iluminam e são acatadas como ar puro que refrigera...
Mas o amargo, o áspero e o gélido, mesmo quando necessários, tornam intragável o que temos de engolir...
E que muitas vezes, infelizmente nos fazem vomitar...
Ainda bem, que entre uma palavra e outra, existe uma pequena pausa , um respirar que pode ser sentido ...e vivido...
A experiência nos ensina o calar, não o engolir, mas o aceitar...
Porque se aceitarmos o imutável, conviveremos melhor com o semelhante...
Gosto da frase da música "epitáfio" dos Titãs:
"Queria ter aceitado as pessoas como elas são...
Queria ter aceitado a vida como ela é...
Devia ter complicado menos,trabalhado menos...
Devia ter me importado menos com problemas pequenos ...
Devia ter amado mais (perdoado mais)..."
Quem não gostaria de ter a sabedoria para aceitar as pessoas como elas são e ainda levar a vida no bom humor?
Quem não gostaria de ter o domínio do silêncio e mesmo no momento mais tenso, ter um olhar despreocupado de amor?

domingo, 25 de março de 2012

"Ô, tarefa brava"




" A tarefa hoje foi brava."
Assim dizia meu pai, homem simples do campo. Em nosso pequeno pedaço de chão , sítio Olho d´água, plantava milho, feijão e amendoim. Minha mãe muitas vezes ia na frente,carregando os dois filhos menores, mulher guerreira que nos deixou, não palavras, mas exemplos inesquecíveis.
Quando começamos a trabalhar na chácara em que hoje moramos , trouxe umas mudinhas de uma praga que dá umas flores amarelas, não sei como se chama, mas acho lindo os lugares onde ela se alastra. Plantei em torno de um ipê rosa que meu marido havia plantado anos antes na entrada . Cultivei, molhei(como se praga precisasse disso) e fiquei feliz quando vi as flores amarelas, como pedacinhos de sol.
Hoje, calor escaldante para um começo de outono , tive maior trabalho em arrancar os imensos arbustos em que se transformaram.
Saber que fui eu quem as trouxe, na minha ânsia de ver flores por aqui; achei ser uma solução fácil.
Incrível que muitos levam a vida assim, sem pesar o que seus atos podem gerar num futuro próximo, indiferentes a lei que diz:
" O que o homem semear , isso também ceifará"
Levam a vida sem responsabilidade, semeando sementes de pragas, que muitas vezes são mortíferas. Pena que tais laços muitas vezes, são armados na fase que deveria ser a mais bela de todas :a juventude.
Depois o trabalho é árduo como o de hoje, arrancar o que se plantou, prevendo que as raízes deixadas ainda podem florescer.

Quanto ao ipê, ele cresceu e havia muita expectativa se realmente era rosa, devido aos anos sem inflorescências.
Era.
E o pequeno cacho de flores mereceu até ser fotografafo. Porém ao tornar-se árvore madura, uma laje de pedra, não permitiu que as raízes crescessem para dar suporte,(moramos em Salto de Pirapora, cidade rica em minério e cujo solo é cheio de pedras) e ela começou a tombar.
Com lágrimas o machado desceu sobre ela, deixando até hoje, o tronco já forte inerte no chão. Mas a natureza é teimosa, onde há raiz e semente há vida. Um pequeno ipê
já ganha altura, e outros menores já germinaram, mas precisei tirá-los . Estavam em lugares impróprios.
Cuidar da terra não é fácil, exige esforço e determinação, a praga muitas vezes ganha a luta.
Mas, observar as borboletas que delicadas, voam sobre as lantanas,repletas de pequenos buquês multicoloridos,dá a deliciosa sensação de missão cumprida.
Afinal,é de pequenas gotas que se formam nuvens, de pequenas sementes que se forma a natureza.
São pequenos gestos que transformam vidas.

Oleo sobre tela: Bosque de Bernadeth Rocha

quarta-feira, 21 de março de 2012

Amigos e familia ...é tudo de bom.





Ontem foi uma noite especial.
Porque além da noite quente, sem vento e sem os inconvenientes bichinhos de luz, o sereno caiu sereno e tornou mais fresca a noite...
Além da comida saborosa, feita a muitas mãos, deliciosa espagheteria, perfumado por muito mangericão...
Além do riso e da conversa animada pra colocar em dia eventos passados e não contados...
Além da presença de quatro de minhas queridas irmãs Izil, Ciça, Mara e Tere. Nem sempre nos reunimos,o que torna o momento ainda mais especial...[só faltou dois de meus irmãos Cinira e o famoso Zé Esquerdinha, faltou também sobrinhos (o Saulo veio), cunhados(o Edson também veio) , enfim torna-se imprescindível um repeteco]
Além de reunir meus doces filhos, tres já casados.Fez reviver os bons momentos em que eles gravitavam ao nosso redor (o paizão possessivo achava que ia ser possivel impedir que eles se aventurassem pela vida !)
Além do furacãozinho Arthur, que onde chega vai esbanjando energia e alegria, os cabelos loiros despertando admiração, fase boa da infância,a curiosidade levando a tantas descobertas.
O que comemoramos?
A vida, a alegria, o bem querer, o estar juntos .
Não precisava de um motivo especial,porque o especial já era o fato de sermos uma familia. Pena que a vida e o tempo nos cobra a distância, vidas que correm paralelas, mas que podem com um pouquinho de esforço se cruzarem.
Passamos isso para nossos filhos: especial é cada dia, cada momento juntos quando transformados em festa, enfeitados pelos balões da alegria, os brigadeiros do riso, não a luz de velas que se apagam , mas de olhares que se cruzam em afeto e aquecem o íntimo; não o presente muitas vezes obrigatório das datas, mas o presente de dar-se por inteiro.
Viver e receber o inesperado, quando então a surpresa é realmente uma surpresa porque não é nem de longe esperada ou cobrada.
Pudesse minha casa seria eterna festa, viveria cercada de amigos. Mas isso não é possível, na verdade se tornaria um fardo...
Bom mesmo é viver a tranquilidade de cada dia , e vez por outra, criar ocasiões especiais como o dia de ontem e sentir o calor da amizade.

Além de tudo, sentir os laços do amor, que é "o perfeito vínculo de união."Colossenses 3:14

segunda-feira, 19 de março de 2012

Simplesmente azul...



Simplesmente azul...
Assim defino o outono
As folhas de minha cerejeira começaram a cair , rodopiando como pipas que perderam o fio.
... pipas amarelas e vermelhas, colorindo o chão e se aninhando entre as pedras...
Porque agora as noites serão mais frias.
Mas o que encanta mesmo é o céu azul, puro e cristalino, azulejo sem nuvens...
Na paleta de cores é azul cerúleo, intenso e vibrante, irradiando alegria.
Desde menina , este céu azul me inspira.
Amava pedalar pelas estradas e caminhos das redondezas de minha casa até o Beira Rio, exalando felicidade por todos os poros.
O sol indeciso esquentando minha pele...ainda não acreditando que acabou o verão.
Queria sumir, virar pássaro, alcançar o infinito.
Mas me contentava em ser simplesmente adolescente, descobrindo a vida e pedindo para o tempo não passar.
Mas o tempo passou...
Muitas coisas mudaram.
Só o céu azul permaneceu;pelo menos aqui, onde o homem ainda não vestiu o céu de cinza.
Daqui algumas horas começa o outono, mais precisamente às 02h14 do dia 20, terça feira.
Provavelmente , estarei dormindo, aninhada em meu cobertor de microfibra, que é óbvio, é azul, nos mesmos braços, que já me enlaçam há 32 outonos.
Mas números não importam.
O que importa é que muitos céus azuis, sem nuvens vão emoldurar meus dias, e os dias de minha irmã, Tere , que como eu,ama o outono...
E se sente mais leve e mais feliz , como se fosse uma pipa dançando no azul do céu.

Óleo sobre tela "Manhãs de Outono" de Bernadeth Rocha

domingo, 18 de março de 2012

Voce é do tamanho de seus sonhos.



Sempre fui apaixonada pelas flores.Mas, quando comecei a pintar, em especial depois que conheci o impressionismo com suas pinceladas vibrantes e em cores puras, elas começaram a brotar em minha mente como se fossem sementes trazidas pelo vento.
Conheci o trabalho de Raquel Taraborelli, Tania Pagliato, e outros artistas com seus jardins impressionantemente floridos. Desde então , ter um jardim florido se tornou sonho, quase uma obsessão.
"Voce é do tamanho de seus sonhos", essa frase de meu filho Lucas faz sentido: quem sonha pouco, vive pouco, quem sonha muito vai atrás de seus sonhos e os transforma em realidade.
Quando estava expondo no Ceagesp de Sorocaba, na Festa das Nações, uma visitante que gostou muito do meu trabalho, fechou os olhos e disse:
" estou imaginando voce pintando...vejo voce num lugar maravilhoso, cheio de flores, pássaros cantando, um gramado muito verde... eu ri de sua imaginação, pois meu atelier era numa rua barulhenta no centro da cidade.
Incrível, que um dia imaginei o quanto seria bom morar numa chácara na beira da rodovia , morar e trabalhar no mesmo local, mas...
De repente estou aqui, morando numa chácara na beira da rodovia. De minha janela vejo os cachos de tumbérgias azuis, minha flor preferida(assisti repetidas vezes o final de " O Tigre e a Neve" só por causa do jardim e das tumbérgias azuis )que pendem do pergolado que nós mesmo fizemos e que está quase pronto. Tudo é feito devagar pela falta de tempo e prática, mas estamos ganhando experiência.
Não é fácil,mas não é impossível.Transformar em jardins de flores e folhagens onde antes só havia pedras e mato, requer esforço e dedicação, nem sempre a coluna suporta.
Mas o sonho aos poucos toma forma . Ontem carpi o mato que escondia os lindos cachos de hortência que surgem das mudas que ganhei de minha irmã Ciça, dedo verde e jardinista como nunca vi, tudo pega nas mãos dela. Mas vou aprendendo.
Quero azuis, como as que vi em Tapiraí, quando voltava da praia, na Pousada Sal da Terra. Momento inesquecível. Meu marido voltou para vermos de perto .Eu e minha amiga Cleide corremos no caminho de hortênsias azuis como se estivéssemos sonhando, crianças encantadas diante do belo.
Estão nascendo lindos buquês cor de rosa e violeta; aprendi que é devido a acidez ou alcalinidade do solo; é preciso corrigir.(bendito google, não sei como conseguimos viver sem ele )
Mas o importante, é que já posso tomar meu primeiro cafézinho apreciando minhas hortênsias. Falta a grama, falta crescer as árvores, fazer a horta, falta muito...
Mas é só fechar os olhos , como aquela doidinha que me viu pintando num lindo jardim.
Nota: os pássaros já tenho. Cantam o dia inteiro. Imagina como será a sinfonia que irei ouvir quando o sonho se tornar pura realidade.

Foto de Sonia Novaes. visite seu blog: sonianovaes.blogspot.com.br

sexta-feira, 16 de março de 2012



É assim que deve ser...

Nem me lembrava mais deste cantinho esquecido...
Tão grande a correria que meus dias me arrastam...Porque se permitir ser assim atropelado por tantas exigências e compromissos?
Será que não vale mais ver o sol nascer e se por; e entre um momento e outro preencher o tempo com um experimentar dos sentidos?
Sentir o aroma dos jasmins,ver brotar a cada dia centenas de tumbérgias ; deleitar-se (com olhos fechados)do sabor das mangas e procurar bichinhos de pelúcia nas nuvens antes que elas se desmanchem...tão efêmeras.
Ler um bom livro sentada na varanda (estou lendo A Semente da vitória - Nuno Cobra , já consegui controlar pelo menos a pressa na hora da refeição, é preciso presentear o paladar , degustando vagarosamente tantos sabores que se nos apresentam,tem que ser um momento sagrado,pois somos em parte o que comemos )parando de vez em quando para ver os pássaros que se alimentam no comedouro , livres e gratos por tanta fartura.
Observar com satisfação o Fred, que nada mais quer do que dormir e se espreguiçar; acho que está aí minha paixão pelos gatos: me realizo neles.
Enfim . Por um momento voltei a este meu cantinho.
Vou tentar colocar freios na rotina. Reencontrar comigo mesmo nestes momentos que na verdade me chamam a reflexão .
E, que de quebra ,nos dá o prazer de encontrar novos amigos.