segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Lembranças que me fazem sonhar.


Sou sonhadora de nascença...
Nascer na beira de um riacho, numa cidadezinha do interior, e ser a caçula de sete irmãos deve ter tido esse preço.
Minha mente é recheada de lembranças, que às vezes são tantas que se misturam aos sonhos e nem sei ao certo onde é a linha tênue que separa lembrança de sonho.
Só sei que os morros eram verdes, com certeza tiveram seus dias de seca e estiagem prolongada, mas em meus sonhos a erva não se seca.
Talvez houve dias em que a comida foi escassa, que o frio foi inclemente.
 Mas como gostava de ver a geada depois das longas noites de inverno; achava lindo o brilho do sol cintilando na grama, nem ligava pras mãozinhas geladas. O que valia era sentir o céu intensamente azul. Sentir o rosto afogueado pelo calor das labaredas, sentada no banquinho em cima do fogão de lenha,  vendo o alaranjado cromo  das labaredas lambendo o bule de café.. Nada mais importava.
Acho que  vem daí a minha paixão pelo frio, eu não vejo a dificuldade da família de pouco meios, mas o calor do fogo e o aconchego do colo da mãe carinhosa , minha mãe Maria, que doce como quase
 todas as Marias que conheci,  sabia minimizar a dor.
Com certeza houveram muitas lágrimas, mas em meus sonhos elas foram enxugadas.
O tempo não as deixou em meus olhos...
Deixei ficar os morros verdejantes, as pipas colorindo o céu, as labaredas no fogão de lenha, o aroma delicioso do bolo "apressado"feito com polvilho e que nunca mais provei...
Deixei ficar em meus sonhos as brincadeiras com os vizinhos,a Aninha, o Júlio, o Luisinho da "Maria do Tico Leite" (é assim que se diz em Pilar do Sul: João da Maria e Maria do João)
A amizade sincera com os seis irmãos: Zézinho, Izildinha, Mara, Ciça, Tere e Cinira, que me ensinou a apreciar o por do sol.
Ainda ecoa em minha mente as deliciosas gargalhadas , o riso fácil daqueles que também sabiam que é preciso bem pouco para poder sonhar...
O tempo deixou marcas, é claro, em alguns mais profundas do que deveriam ser. Mas as cicatrizes existem para provar que é possível se regenerar, e o processo depende mais de nós do que do próprio tempo.
Ao olhar para trás , ou melhor, para dentro de mim, encontro um mundo de utopia, ingênuo, em que as cores fortes evocam lembranças , onde os sons e os aromas me remetem à uma infância feliz.
Muitos, ao contemplar o "Meu Mundo Perfeito" , dizem:
-" sua infância foi num lugar maravilhoso assim?"
Digo:
-Foi, porque eu tirei as pedras, os espinhos, as lágrimas e só ficou o que eu aprendi a amar.

"Meu mundo perfeito"-óleo sobre tela, arte naif de Bernadeth Rocha


3 comentários:

Joanna Rocha disse...

Lindo texto mãe, é dai que aprendemos a viver com vc, todo dia vc nos ensina a ser melhores filhos, esposa, pessoas e ect. Saber apagar as dificuldades, e pelo pouco que eu sei foram muitas, e ficar apenas com os sonhos e lembranças é algo magistral. Parabêns pela mulher e Mãe maravilhosa que vc é.

Francisco Carlos de Almeida disse...

Massa!

Unknown disse...

Sem comentários Bernadete! Simplesmente lindo sua garra de viver