domingo, 13 de dezembro de 2009

Flamboyants na primavera



Sempre aguardo o mês de novembro com uma certa expectativa...
-Será que este ano eles estarão em plena florescência?
E saio à caça dos flamboyants! Infelizmente constatei que este ano, por algum motivo (às vezes é a falta da chuva, às vezes excesso, não entendo muito disso ) eles não estão com toda a beleza que é peculiar á espécie.
Sempre houve flamboyants em minha vida, curiosidade despertada pela música do Roberto Carlos: " ...meu flamboyant na primavera, que bonito que ele era dando sombra no quintal..."
- Flamboyant? Que que é isso?
Foi quando os conheci e eles passaram a ser minha árvore predileta.Lembro-me em especial de uma árvore de flores laranja, que até hoje deve estar imponente no pátio da escola Barcelona em Sorocaba. Todo ano ela carregava espetacularmente, árvore imensa de galhos longos que pareciam abraçar o telhado da Escola, contrastando com o infinito céu azul. Gostava de subir quarteirão acima para poder observar sua copa do alto. Considerava-a um presente de Deus para mim, só para mim, pois sentia que só eu a via naquele momento.
Outro momento inesquecível em elas estiveram presentes, foi em 92. Um certo domingo, resolvemos levar os filhos para um passeio na estrada que liga Itú à Cabreuva, estrada cheia de curvas que margeia o pobre Rio Tietê, espumando por causa da poluição. (as crianças acharam lindo os blocos de espuma mal cheirosa que rolavam na correnteza e às vezes o vento levantava no ar). De repente, todas gritaram que tinham visto um outdoor: "Fazenda da Serra. Chocolates" Voltamos e conhecemos a bela fazenda de mais de 250 anos que se tornara ponto turístico. Enquanto eu e meu marido ficamos sentados à sombra de grandes flamboyants floridos( creio que lá se encontram umas dez árvores) as flores vermelhas pontilhando o verde do gramado, as crianças se divertiram com os pequenos animais da fazenda, comeram doces e correram até se cansar. Também não me esqueço que foi quando pude ver de perto uma roda d'água . Já havia pintado algumas mas nunca as tinha visto uma de verdade. Foi um domingo maravilhoso e inesquecível e que ficou guardado na memória de meus filhos. De vez em quando voltamos lá. Inclusive pintei ao vivo o lindo casarão que fez parte de minha exposição "Casas, Casarões e seus quintais" no ano 2000.
Porém , hoje, na minha caminhada matinal, fui ver os flamboyants que conheci quando vim morar aqui. Encontrei-os mutilados, desfigurados pelo machado. Embora ainda haja muito verde em volta deles, estão aprisionados ao longo de uma avenida movimentada. Apenas um deles, num esforço final , gemeu algumas flores, como uma lembrança dolorida de outras primaveras. Parecem ser apenas um lamento, um protesto pela triste situação que se encontram.
Ainda vou espalhar sementes por aí, quero dar minha contribuição e cumprir meu papel como protetor da terra, visto ser este o papel fundamental do ser humano.
"-Por que a terra não é assim tão florida?"
"-Por que os homens se esqueceram de lançar as sementes."
Que triste realidade!

Bernadeth Rocha

Quadro: Fazenda da Serra de Bernadeth Rocha, quadro que fez parte da exposição "Casa, Casarões e seus Quintais"

Um comentário:

Vera Falcão disse...

Bernadeth, sou tua fã! Coloquei um dos teus quadros ilustrando um post lá no blog, ok? um abraço